Detalhe aparentemente simples tem origem milenar e representa muito mais do que estilo
Poucos elementos da indumentária papal geram tanta curiosidade quanto os sapatos vermelhos usados pelo líder máximo da Igreja Católica. Para muitos, trata-se apenas de um detalhe estilístico. No entanto, o uso da cor carrega um significado profundo e simbólico, enraizado nas tradições da Igreja e nas origens do cristianismo.
Historicamente, o vermelho sempre esteve presente nas vestes litúrgicas dos cardeais e do próprio papa. A cor representa o sangue dos mártires cristãos, que deram a vida pela fé. Assim, ao calçar sapatos vermelhos, o pontífice reafirma simbolicamente sua disposição para seguir o mesmo caminho de sacrifício e serviço.
Do Império Romano à Cúria Romana: um legado mantido há séculos
Na Antiguidade, os imperadores romanos utilizavam sandálias ou sapatos tingidos de vermelho para representar sua autoridade. Com o passar dos séculos, a Igreja Católica incorporou elementos do vestuário imperial, incluindo o uso da cor vermelha pelos seus líderes.
Durante a Idade Média, os papas vestiam-se quase inteiramente de vermelho. Foi apenas a partir do século XVI que o branco passou a predominar, quando o Papa Pio V, dominicano, adotou o hábito branco de sua ordem religiosa como traje papal. Ainda assim, os sapatos vermelhos permaneceram como um símbolo de continuidade, poder espiritual e humildade diante do sacrifício cristão.
Tradição, ruptura e retomada: o vai e vem dos sapatos papais
Embora o uso dos sapatos vermelhos tenha sido constante por séculos, alguns pontífices optaram por mudanças. João Paulo II, por exemplo, chegou a usar sapatos marrons em parte de seu pontificado. Já Bento XVI resgatou a tradição dos calçados vermelhos, gerando especulações e comentários da mídia sobre seu suposto apreço por itens de luxo — o que foi negado pelo Vaticano.
Francisco, por sua vez, optou por calçados pretos mais simples desde o início de seu pontificado. A escolha reflete seu estilo pessoal de maior austeridade, mas não invalida o valor simbólico dos tradicionais sapatos vermelhos, que continuam sendo um ícone visual do papado.